23.10.09

Contemplo

Quando me habituo à normalidade de não te ter comigo, eis que surges e apareces para mim, qual espectro encantador. Consigo quase distinguir a tua forma em frente da minha, os teus olhos pousados em mim, e eu pasmo nessa doce contemplação. E, então, é como se não existisse mundo lá fora, é como se fosse só eu e a tua imagem reflectida, é como se só existíssemos nós.
Mas, depois, desapareces subitamente e eu fico novamente só, tão só, sem ti. Daqui só consigo depreender que és vida. Respiro-te, mesmo longe, e vou desistir de tentar tocar-te, porque sei que me sentes, de alguma maneira.

Hei-de alcançar-te.

11.10.09

Sono Leve

O tédio foi-se desvanecendo. Eu quase deixei de sentir. Estou agora num estado semi-hipnótico, quase que não sinto nada. Lembro-me mais de ti do que gostaria, e sinto-te - deveras - debaixo da minha pele, como acontece sempre. Mas estou num estado em que não me é permitido pensar demasiado. Pensar demais dói demais. Fui criando sistemas de retenção de pensamentos. Os pensamentos, hoje, não fluíram muito, apenas se mantiveram num estado primitivo. Deveria ser sempre assim, penso eu. Porém, sei que isso não vai acontecer. Não sou tão superficial assim. Aliás, hoje, quase não me reconheço. E é bom. É bom não me reconhecer; é bom não pensar demais, é bom não me doer cada dia da tua ausência constante.
Amanhã, vou sentir a tua falta, quando regressar ao mar de gente que abomino apenas porque tu nunca te encontras nele. E vou querer que regresses, desesperadamente. E vou afundar-me novamente. E o meu coração vai adormecer por mais umas horas, quando me aperceber de que não virás.
Recordo agora o último bater do meu coração desnorteado: foi quando te vi caminhar para longe de mim, quando deixei - estupidamente - que partisses.

9.10.09





Não sei ser triste a valer
Nem ser alegre deveras.
Acreditem: não sei ser.




Fernando Pessoa

Hey there...

A thousand miles seems pretty far,
But they've got planes and trains and cars,
I'd walk to you if I had no other way.

Our friends would all make fun of us,
And we'll just laugh along
Because we know that none of them have felt this way.



7.10.09

O Sonho

Felizes das pessoas que ainda vivem um mundo cor-de-rosa. Infelizes! Porque se desiludirão. Mas, mais infelizes daqueles que vivem, são aqueles que sonham com ele - como eu -, porque ainda estão à espera que ele chegue, e só podem fazê-lo mantendo a esperança.

Mas não sou tão infeliz.

Ou menos, não perdi a capacidade de sonhar, ainda. Porque o sonho é o que faz com que eu esteja ainda viva.

5.10.09

Dia Cinzento

Os dias cinzentos dão cabo de mim. É como se cada suspiro me matasse aos poucos. E não há dia em que eu mais suspire que num dia cinzento. Hoje foi um dia cinzento. Um chato, desgastante, entediante e fastidioso Dia Cinzento. Acordei, como quase sempre, pensando em ti. Mal acordei, lembrei-me de ti. Depois, à medida que a manhã foi correndo, morri por um abraço teu, que - desesperadamente - sabia que não iria chegar. Não hoje, não amanhã, talvez - talvez - um dia. E as pessoas falavam muito, falavam muito intensamente, mas eu, eu, só soube responder com pequenos grunhidos, meias-frases e gritos desnorteados. Podia ter-me assustado, mas não. Porque já me vou conhecendo. Estou a mudar, estou a crescer, e estes dias vão sempre sendo maiores, vão sempre sendo difíceis, mas eu já começo a conseguir lidar com eles. Não de uma maneira muito pacífica, mas vou conseguindo, vou vivendo. Amanhã, tenho de lutar comigo mesma. Talvez não consiga evitar o pensamento mau pela manhã, mas vou desde logo - seguramente - encetar a luta. Porque eu não sou uma pessoa cinzenta. Triste, sim, em alguns momentos, mas não deprimida. Não posso deixar-me cair. Eu quero ser contente, quero ser feliz. Quero ser feliz, só por mais um bocadinho. E também quero um abraço.

4.10.09

amo

O amor que tenho em mim neste momento dava para distribuir por dez batalhões e, ainda que me não seja possível vivê-lo com aquele que amo, neste momento - ou, até, talvez para sempre -, a mim, tem-me bastado o saber-me capaz de amar. Amo uma única pessoa, há mais tempo do que aquele que consigo contar, e não consigo imaginar-me amando outro, não consigo conceber, na minha cabeça, amor maior que este que sinto em mim. E vou amando, assim, enterrando memórias e desejos no sítio mais profundo que consigo encontrar em mim, para não enlouquecer. Amo, logo existo. E amo-te. E quem me dera poder dizê-lo, cantando, a toda a gente. Queria poder sussurrar o teu nome na escuridão, ao teu ouvido. Queria fazer parar este desassossego que me habita. Porém, sei que, se tentasse, sequer, fazer com que saísses debaixo da minha pele, se tentasse excluir-te das minhas entranhas, enlouqueceria muito mais. Porque, agora, já não me sinto mais louca. Agora, sinto-me real, e sinto-te distante. E sinto as minhas faces vermelhas, as minhas mãos escaldantes, e o meu coração azul. Porque te amo.
 
 
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