Não sei o que me está a acontecer. É como se o mundo fosse toda uma bola de massa cinzenta indistinta, que não me presta a mínima atenção, e eu uma figura sozinha no meio de toda a minha própria incompreensão e perplexidade. O cinzento está a voltar, em passadas largas, e está a crescer em mim uma tão grande sonolência de viver que não consigo impedir a sua vinda.
As pessoas que outrora estavam comigo, que riam comigo, estão lentamente, dentro da minha cabeça, a juntar-se à massa indistinta e eu, na minha irritante e perversa passividade, não estou a conseguir fazer nada para as deter. É como se eu estivesse a viver a vida de outra pessoa, mas tão alheia à minha própria realidade que não consigo distinguir-me da paisagem circundante. Os meus pensamentos são turvos, e até tu, que costumavas ser o meu espectro da salvação, se me afiguras indefinido. Porém, de entre todas as imagens indistintas, és aquela que mais quero recordar. Preciso de ti para me lembrar de quem sou, porque já nada me resta senão a esperança de encontrar o teu refulgente azul uma vez mais. Meu amor, por favor, não me deixes tu também.
Faz muito frio dentro de mim e eu já não me reconheço. Acho que estou apenas cansada. Todos os meus sonhos estão congelados dentro de uma caixa que eu não consigo alcançar e todas as minhas esperanças brotam de dentro da minha pele como um pedido de socorro. Se não estiveres aí, sei que o mundo vai ruir, e os destroços vão ser tão evidentes que não haverá nunca possibilidade de reconstrução.